Estudo americano sugere que exames clínicos são capazes de diagnosticar maior risco de sequelas persistentes da doença
Covid longa surge em pacientes que desenvolveram formas graves ou leves da doençaGIUSEPPE LAMI/EFE/EPA |
Entre os milhões de indivíduos curados da Covid-19 há um grupo que rapidamente se recupera e volta à condição normal de saúde. Muitos outros, porém, passam por um período maior de recuperação, com sequelas mais longas.
Algumas estimativas sugerem que mais de 40% dos infectados sofrem efeitos crônicos conhecidos como sequelas pós-agudas de Covid-19 (Pasc). A questão é por que o Sars-CoV-2 e suas variantes agem de maneira diferente em cada pessoa.
Pesquisadores do ISB Science Transforming Health, organização de pesquisas biomédicas sem fins lucrativos sediada em Seattle, nos Estados Unidos, descobriram os seguintes fatores que sugerem mais riscos de ter a Covid longa:
• pacientes com carga viral alta no começo da infecção;
• pessoas com doenças autoimunes que têm muitos autoanticorpos e, com isso, a produção de proteção contra o Sars-CoV-2 é diminuída;
• indivíduos com diabetes tipo 2;
• reativação do vírus EBV (Epstein-Barr) durante a Covid-19; conhecido como "vírus do beijo", ele infecta a maioria das pessoas na juventude e depois tende a ficar inativo.
É possível diagnosticar esses quatros fatores no começo da infecção, o que pode facilitar o tratamento e a prevenção de sequelas.
É importante ressaltar que os especialistas descobriram que a Covid longa acontece independentemente de o paciente ter desenvolvido a forma grave ou leve da doença.
“A Covid longa está causando morbidade significativa nos sobreviventes, mas a patologia é pouco compreendida. Nosso estudo combina dados clínicos e resultados relatados pelos pacientes com análises para desvendar associações biológicas que ocorrem em pacientes com Pasc. Certos achados têm potencial para se traduzir rapidamente na clínica e formam uma base importante para o desenvolvimento de terapias para tratar o problema", explicou o infectologista Jason Goldman, coautor do artigo que foi publicado nesta semana na revista científica Cell.
“Esta pesquisa enfatiza a importância de fazer medições no início da doença para descobrir como tratar os pacientes. Uma vez que você pode medir algo, então pode começar a fazer algo sobre isso", disse Jim Heath, o investigador principal do estudo e presidente do IBS, ao jornal The New York Times.
O estudo acompanhou 209 pacientes de clínicas médicas de Seattle com idade entre 18 e 89 anos infectados desde 2020 até o começo de 2021. Todos tiveram amostras de sangue e swab nasal coletadas em diferentes momentos da infecção, para realizar uma fenotipagem abrangente que foi integrada a dados clínicos e sintomas relatados pelo paciente a fim de fazer uma investigação profunda.
“Fizemos essa análise porque sabemos que os pacientes vão ao médico e dizem que estão cansados o tempo todo ou o que quer que seja, e o médico apenas diz a eles para dormirem mais. Isso não é muito útil. Então, queríamos realmente ter uma maneira de quantificar e dizer que há realmente algo errado com esses pacientes”, acrescentou Heath.
Os voluntários eram pacientes com cerca de 20 sintomas associados à Covid longa, incluindo fadiga, confusão mental e falta de ar. 37% dos pacientes relataram três ou mais sintomas da Pasc dois ou três meses após a infecção. Outros 24% informaram um ou dois sintomas e 39% não relataram sintomas.
Dos pacientes que relataram três ou mais sintomas, 95% tinham um ou mais dos quatro fatores biológicos identificados no estudo quando foram diagnosticados com Covid-19.
As descobertas ainda estão em fase de pesquisa, mas podem sugerir maneiras de prevenir ou tratar alguns casos de Covid longa, incluindo a possibilidade de administrar medicamentos antivirais às pessoas logo após o diagnóstico da infecção.
Com informações *R7