Pesquisadores da USP demonstram produção de lotes-piloto do imunizante em boas práticas de laboratório; item é um dos pré-requisitos para a concessão de autorização para iniciar um ensaio clínico
Fotomontagem: USP |
A analogia da porta ou da parede é o que melhor define o efeito proposto da vacina spray nasal no combate à covid-19. A ideia da imunização é a produção de anticorpos na mucosa nasal, que interromperiam a cadeia de transmissão do vírus e evitariam que o organismo fosse infectado. A vacina destina-se a ser usada para impedir que o vírus SARS-CoV-2 entre no corpo e bloqueie a transmissão entre as pessoas, por isso é tratada como um reforço para prevenir a infecção nasal, além de proteger contra a doença.
O projeto, desenvolvido integralmente no Brasil, começou por meio de um contrato direto com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), implementado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A imunização faz parte da Ação de Vacinas do MCTI, estabelecida por meio da RedeVírus. O MCTI investiu em dez projetos nacionais com 15 estratégias diferentes, visando ainda o desenvolvimento e incorporação de novas tecnologias. O projeto é acompanhado pela Coordenação Geral de Ciências da Saúde, Biotecnológicas e Agrárias (CGSB) do SEPEF/MCTI.
A pesquisa é coordenada pelo professor Jorge Kalil Filho, do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o pesquisador, a documentação já foi encaminhada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os ensaios clínicos. Atualmente, os pesquisadores estão apresentando documentos para comprovar que a produção dos lotes-piloto foi realizada de acordo com as boas práticas de fabricação. Esse é um dos pré-requisitos que serão avaliados pelo órgão regulador para a autorização de início dos ensaios clínicos. Os cientistas também estão conversando com a indústria farmacêutica nacional sobre a produção futura.
A vacina age sobre os anticorpos, chamados de imunoglobulinas A (IGA), presentes nas mucosas da orofaringe (nariz, boca e garganta), ou seja, o spray faz com que o organismo produza defesas nas primeiras fases do trato respiratório. efeito neutralizante da carga viral. Ao induzir uma resposta imune local, o spray evita a proliferação do vírus no nariz e a subsequente transmissão para outras pessoas, bem como a infecção pulmonar.
O grupo de trabalho inclui cerca de 30 pesquisadores que estudaram a resposta imune para definir o antígeno presente na composição. Eles desenvolveram mais de 50 formulações até chegar a uma que permitisse atingir a mucosa nasal para a melhor eficácia possível.
O antígeno presente na vacina, que provoca uma resposta humoral e celular, é sintético e inédito e foi definido a partir de parte da proteína spike do vírus SARS-CoV-2 após um estudo observacional que acompanhou aproximadamente 200 pessoas infectadas com a doença. . Os pesquisadores descobriram qual era o melhor alvo da resposta de anticorpos, o RBD (Receptor Binding Domain), também estudaram o genoma do vírus e identificaram quais "bits" estimulavam a melhor resposta celular, tanto para células "helper" (que ajudam a compor a resposta) e para aqueles "citotóxicos" (que destroem as células infectadas).
“Nossa proteína foi extensivamente testada em modelos animais. Ao mesmo tempo, após testar mais de 50 formulações, definimos a melhor nanotecnologia que transportaria nosso antígeno através dos cílios, atravessaria a barreira do muco e se depositaria na mucosa nasal, induzindo uma forte resposta imune celular e mucosa, local e sistêmica . Essa formulação foi testada como indutora de defesa em camundongos ACE-2 e se mostrou protetora, comprovando a tese do conceito”, explica Kalil.
Segundo o coordenador da pesquisa, é importante que a ferramenta contenha a transmissibilidade do vírus SARS-CoV-2, pois mesmo pessoas vacinadas podem ser reinfectadas e transmitidas. Isso ocorre porque as vacinas intramusculares são muito sistêmicas e não muito locais. Isso significa que eles protegem o organismo como um todo, mas não podem desencadear uma resposta imune nas membranas mucosas da face. A vacina também é projetada para permitir que seja adaptada de acordo com as variantes do vírus.
Além disso, a aplicação de spray nasal pode ser menos resistente em alguns setores da população, especialmente em crianças.
O coordenador da pesquisa já pesquisou outras vacinas, como a contra o estreptococo, causador da doença cardíaca reumática, que aguarda testes clínicos. Segundo ele, a plataforma de tecnologia intranasal poderia ser usada para desenvolver imunizações para outras doenças, como influenza e principalmente o vírus sincicial respiratório (VSR), que é uma das principais causas de infecções respiratórias e pulmonares em recém-nascidos e lactentes. crianças pequenas e podem causar bronquiolite.
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Fonte: gov.br